Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. João 5:24





quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Ouça a Palavra de Deus



Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai” (1 Jo 2.24).

O escritor da Carta aos Hebreus exorta seus leitores no capítulo 2.1-4: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade”.

Anteriormente, o capítulo 1 menciona como Deus fala: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1.1-2). Nos versículos seguintes segue um impressionante louvor ao Filho de Deus. O autor escreve que Deus criou o mundo por intermédio dEle (v.2), que Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do Seu ser (v.3), que Ele é muito mais sublime que os anjos (v.4) e muitas coisas mais. Hebreus 1 nos aprofunda na grandiosidade de Jesus Cristo de uma forma maravilhosa. É um louvor pleno, uma ampliação de Colossenses 2.3, onde Paulo escreve que em Jesus Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.
Muitas pessoas buscam a sabedoria. Filósofos e fundadores de religiões são citados e enaltecidos por sua sabedoria. Especialmente as religiões orientais com suas técnicas de meditação e suas experiências de auto-revelação gozam de muita popularidade e são consideradas exemplares e dignas de imitação por nossa sociedade. Mas o que não se reconhece é que toda essa pretensa sabedoria humana perde o brilho e a cor quando comparada à sabedoria que está oculta em Jesus Cristo.

Ouvir o que Deus fala através de Jesus

No capítulo 2 da Carta aos Hebreus, a ênfase é que escutemos o falar de Deus por meio de Jesus Cristo – e obviamente pratiquemos o que ouvimos. Afinal, devemos ser não apenas meros ouvintes mas praticantes da Palavra de Deus (Tg 1.22). Apenas ouvir não basta, é o que nos diz Lucas 11.28: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” Guardar a Palavra é colocá-la em prática. Se você ouvir o tiro de largada e continuar parado, jamais conseguirá ganhar a corrida – mesmo que ouça muito bem a ordem de partida.

As religiões orientais com suas técnicas de meditação e suas experiências de auto-revelação gozam de muita popularidade e são consideradas exemplares e dignas de imitação por nossa sociedade.
 
Esse é um ponto em que, infelizmente, muitos cristãos têm problemas. Eles lêem e ouvem a Palavra de Deus, mas não a cumprem. O escritor da Carta aos Hebreus, inspirado por Deus, enfatiza como é importante guardar o Evangelho que nos foi confiado: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos” (Hb 2.1).

A Bíblia, a Palavra de Deus, é o parâmetro normativo para a nossa vida inteira. Para nós cristãos a Bíblia é aquilo que o livro de bordo significa para um maquinista de trem. Se o maquinista não se atém ao plano de viagem, o caos se instala em todas as linhas e estações da ferrovia. Conforme as circunstâncias, toda a rede pode ficar paralisada. Cedo ou tarde acaba acontecendo a mesma coisa com cristãos que pensam não precisar de um guia para o caminho, que prescindem das Sagradas Escrituras. Em algum momento de suas vidas eles naufragarão na fé e o trem de suas vidas descarrilhará ou tomará o rumo errado.

Eu pergunto: Você é cristão? Você apenas se chama assim, ou quer viver como crente? Então leia, ouça e aja segundo a orientação da Bíblia – a Palavra de Deus. Sem essa Palavra todos nós corremos o risco de nos desviarmos e de errarmos o alvo, como nos avisa Hebreus 2.1. E qual é o alvo supremo da vida cristã? A glorificação de Deus em Seu Filho Jesus Cristo e por meio dEle. Assim, Pedro escreve: “...para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 4.11). Para alcançar concretamente esse alvo, precisamos permanecer na Palavra e não nos desviar dela, nem à direita, nem à esquerda.

Independentemente do assunto em questão,

é importante ouvir e, principalmente, agir segundo aquilo que a própria Bíblia diz. O que as pessoas dizem não é importante. É completamente irrelevante o que eu lhe digo. Mas aquilo que a Palavra de Deus lhe diz é de importância vital. Podemos aprender das outras pessoas, podemos aprender de seus comentários, de suas pregações e análises. Tudo isso pode e deve nos ajudar bastante, mas não substitui a Palavra de Deus viva. Cada sermão, cada comentário ou o que quer que seja pode ser um complemento precioso para entendermos melhor o que a Bíblia nos diz. Mas todas essas ajudas devem nos conduzir à Palavra, jamais substituí-la. Isso está completamente fora de cogitação.
Por isso os mórmons não podem estar certos, uma vez que consideram o Livro de Mórmon mais do que a Palavra de Deus. Eles têm o manual errado – e encontram-se no trilho errado. Pela mesma razão também encontramos tantas heresias na igreja católica, pois ela preza suas doutrinas eclesiásticas, seus dogmas e sua tradição mais do que a Palavra viva de Deus. E essa também é a razão de tantos problemas nas igrejas reformadas, pois elas estão mais ocupadas consigo mesmas do que com a Palavra de Deus. Toda igreja, toda denominação, precisa se perguntar: “O que é relevante para nós? A tradição, a doutrina da nossa igreja, o dogma, o afago do próprio ego ou a Palavra de Deus?”
Timóteo já foi exortado com insistência a ater-se à Palavra: “E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado...” (1 Tm 6.20). Paulo não escreve: “Ó Timóteo, guarde-me em boa memória”. “Ó Timóteo, pense naquilo que lhe falei”. Não, ele diz: “Timóteo, guarde o bem que lhe foi confiado – guarde a Palavra de Deus!” Essa palavra é verdadeira e confiável. E essa Palavra aponta para o Único Salvador (1 Tm 1.15).

A Palavra de Deus,

a Boa-Nova, é eterna: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente” (1 Pe 1.23-25). Que lástima ver que, para alguns cristãos, a palavra de alguém tem mais peso do que a eterna Palavra de Deus, que tem valor para sempre e é verdadeira e viva.
Não importa nem um pouco se essa Palavra nos agrada ou não; se seu texto é belo, lírico, poético, histórico ou interessante. O que está em jogo é muito, muito mais do que isso, pois desta Palavra – da Sagrada Escritura – depende a vida ou a morte, o céu ou o inferno. Pois a fé, sem a qual ninguém é salvo, vem da Palavra (Rm 10.17).
Portanto, a Bíblia é um livro importante para a nossa vida, ele é ainda mais, ele é vital. Por isso, é de partir o coração quando vemos um livro tão precioso todo empoeirado, amarelado, rasgado ou sendo queimado. Quem faz isso está se comportando como um psicopata que atira no médico porque pensa poder fazer uma cirurgia em seu próprio coração.
Com toda a importância e todo o significado desse livro não precisamos nos admirar com o fato de a Carta aos Hebreus nos exortar com ênfase, mas também nos incentivar a permanecer nesta Palavra e a guardar o que o Senhor nos revelou por Seu falar. Guarde isto muito bem: você pode confiar cem por cento nessa Palavra, você pode confiar plenamente, sem duvidar e sem questionar, porque ela é a Palavra de Deus.
Você talvez esteja desesperado, arruinado, solitário ou desalentado? Agarre-se à Palavra de Deus, que diz, por exemplo: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Co 4.8-10). Existem muitas outras promessas: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Com certeza você já ouviu essas promessas dezenas de vezes. Talvez até consiga recitar muitas passagens bíblicas de cor. Mas também crê nelas? Você as guarda no coração? Faça isso, pois a Palavra de Deus é válida eternamente. Seu consolo e suas promessas, sua fidelidade e seu amor são também para você, especialmente quando você não vê nenhuma saída para sua situação.

Em Hebreus 2.2 está escrito:

Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos...” O que isso quer dizer? Que palavra foi anunciada por meio de anjos?
Vejamos Atos 7. Ali Estevão faz sua defesa diante do Sinédrio. E se reporta à história de Israel: “Foi Moisés quem disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim. É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir” (At 7.37-38).
O que foi dado pelo anjo a Moisés no monte Sinai? As tábuas da Lei (comp. v. 53). Paulo diz: “...foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador” (Gl 3.19). Já vimos que o capítulo 1 da Carta aos Hebreus afirma que Jesus é superior e mais excelente que os anjos. Sem entrar mais a fundo no assunto da Lei em si, não posso deixar de dizer: a Palavra do Filho – que é a Boa-Nova, a mensagem da graça – é muito melhor, muito mais valiosa do que a palavra de anjos – que é a Lei. Em outras palavras, Jesus é muito superior aos anjos, significando que a graça é melhor do que a Lei!

Toda igreja, toda denominação, precisa se perguntar: “O que é relevante para nós? A tradição, a doutrina da nossa igreja, o dogma, o afago do próprio ego ou a Palavra de Deus?”
Nosso texto diz que toda e qualquer transgressão da Lei trazia consigo o seu justo castigo: “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo” (Hb 2.2). A Lei mostrava às pessoas: “Vocês não podem encontrar a salvação a partir de si mesmos. Isso é impossível! Todos vocês são culpados diante da Lei. Todos vocês serão esmigalhados diante da Lei e receberão o salário do pecado – que é a morte”. E essa é a razão e o alvo da Lei: mostrar ao homem a necessidade de reconhecer seus pecados e de dar meia-volta e mudar de rumo.

A Lei já apontava para a necessidade de um Substituto, disposto e capaz de expiar nossa culpa e pagar o salário do pecado em nosso lugar. E quem é esse Substituto, esse Salvador? Essa Pessoa é o tema não apenas da Carta aos Hebreus, mas de toda a Escritura. Esse Substituto apto e disposto a realizar a expiação dos pecados da humanidade e a dar-lhes a salvação eterna não é outro senão Jesus Cristo, o Unigênito Filho de Deus!

Hebreus 2.1-4 diz ao homem

que ouve a Palavra de Deus, àquele que tomou conhecimento do caminho da salvação: “Como você é tolo se desprezar esta salvação!”

Dê ouvidos à Palavra de Deus! Ouça e pratique essa Palavra! Tolo é quem não o faz! É como alguém que está se afogando e não agarra a bóia salvadora pensando que se salvará por seu próprio esforço. Em sentido inverso, é válido o que diz João 8.31-32: Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

Mais uma vez eu pergunto: Você é cristão? Você permanece na Palavra? Guarda esta Palavra e vive segundo os seus ensinos? Ou você vive para si mesmo? Se pararmos para pensar apenas no que acarretava, na Antiga Aliança, não obedecer à palavra transmitida por meio de anjos, ou seja, à Lei, que conseqüências fatais deverá trazer consigo o desprezo pela Palavra do Filho, que é muito superior aos anjos!

Ouvimos o Filho, e agora temos de nos orientar por Sua Palavra. A própria Escritura nos desafia a ler, estudar e incorporar o que diz, nos incentiva a agir segundo seus preceitos e a ficar arraigados e firmes nela (2 Jo 9; Pv 4.13). A Palavra de Deus, a Sagrada Escritura, é seu guia, seu manual, o roteiro da sua vida.

Você pode chamar-se cristão. Pode ser batizado. Pode ir ao culto de vez em quando ou até à reunião de oração. Você pode se considerar uma boa pessoa. Mas você é um bom cristão? Será que não existe alguma coisa na sua vida que não está de acordo com o seu manual? Talvez você argumente que esses deslizes são bagatelas, que não são coisa séria. E ainda por cima pensa que não pode perder a salvação, já que você é cristão. Eu não faço a menor idéia do que lhe espera na eternidade, mas sei muito bem o que a Palavra de Deus espera de você hoje, aqui e agora: “Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.15-16). “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento...” (1 Pe 2.11-12).
O que Deus espera de nós? Uma vida vivida segundo a Sua vontade, uma vida que honra o nome do Senhor, uma vida que contribui para que o Nome do Pai e do Filho sejam glorificados. Você atinge esse alvo tão elevado? Ó Deus, como é tolo quem não guarda a Tua Palavra! Por isso, animemo-nos uns aos outros a permanecer firmes nessa Palavra, a levá-la a sério e a obedecer o que ela diz, cumprindo tudo o que nos foi confiado nas páginas da Bíblia! Ela é a Palavra viva de Deus, o prumo da nossa vida.
Ouça a Palavra de Deus, creia na Palavra e guarde-a em seu coração. Esteja enraizado nela, e a coroa da vitória lhe está garantida!

Thomas Lieth

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Os Deveres das Esposas

 

A mulher também tem deveres a cumprir no casamento. Suas responsabilidades matrimoniais incluem:

1. Ser ajudadora
2. Ser submissa
3. Ser administradora do lar
4. Ser amante

A ESPOSA DEVE SER AJUDADORA DE SEU MARIDO

Destacaremos, como primeiro dever da esposa, a responsabilidade de ser uma ajudadora de seu marido, uma vez que esta é a primeira menção que o próprio Criador faz acerca de seu papel no matrimônio:

“Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.” (Gênesis 2.18)
Isso não apenas reforça o fato de que a liderança do lar pertence ao homem na condição de cabeça, como também ressalta a importância da mulher no contexto matrimonial. Quando ensino (ou mesmo apenas comento) o fato do homem ser o cabeça do lar, lamentavelmente percebo que, aos olhos de alguns, tanto homens como mulheres, isso soa com um certo tom depreciativo, quase como se a mulher fosse uma mera espécie de “serviçal”. E o fato é que esta visão distorcida tem roubado não apenas aqueles que a possuem, como também ao seu próprio matrimônio! Creio que, ao definir a mulher como ajudadora, Deus não a estava rebaixando; pelo contrário, Ele estava justamente exaltando-a. Gosto de um termo que meu pai, ao pregar sobre família, usava em relação a este assunto; ele dizia que a mulher ocupa a função de “vice-presidente” do lar. Ou ainda, usando a analogia de um avião (onde agora escrevo este capítulo), ela poderia ser qualificada como “co-piloto” e não apenas como uma “comissária de bordo” (também não estou desmerecendo esta função, só destacando a distinção hierárquica que encontramos entre estas duas funções).

Ao reconhecer que o homem precisava de uma ajudadora, Deus definiu não apenas a incapacidade do homem de fazer tudo sozinho como também revelou que não havia ninguém mais qualificada para exercer este papel de ajudadora do que a mulher. Em outras palavras, Deus estava declarando que a mulher tem algo a oferecer para o andamento do lar que o homem não tem!

Estar sob um cabeça (uma autoridade) não desmerece ninguém! O marido tem como seu cabeça a Cristo e o próprio Cristo tem como cabeça a Deus Pai (1 Co 11.3) e, embora haja clara distinção na cadeia de comando e distribuição de tarefas entre a Trindade, nem Jesus e nem o Espírito Santo são apresentados como “menos-Deus” do que o Pai. Pelo contrário, a Bíblia os apresenta como um só Deus (Ef 4.4), assim como também diz que o marido e sua esposa são um.

Ajudando na tomada de decisões

Embora muitos maridos de “cabeça-dura” não entendam isto, Deus criou a mulher para ajudá-lo em tudo, até no governo do lar – obviamente não usurpando sua autoridade, mas contribuindo com a sugestão de bons conselhos. Precisamos desenvolver no lar a visão de equipe. Além da própria Trindade (modelo para nós nesta questão), vemos no Novo Testamento que as igrejas eram governadas pelos presbíteros (1 Tm 5.17) que compunham as equipes ministeriais; note o aspecto plural quando as Escrituras mencionam os presbíteros e você vai descobrir que ninguém estava no governo de uma igreja sozinho. Os lugares onde isto parece ter acontecido sempre demonstravam ter distorções (3 Jo 9). Contudo, vemos nos capítulos dois e três do livro de Apocalipse que, ao tratar com aquelas sete igrejas da Ásia, o Senhor Jesus se dirigia ao “anjo”, ao “mensageiro” da igreja. Este fato nos faz perceber que dentro de uma equipe ministerial há sempre o que chamamos de uma “voz maior”, alguém encarregado de uma responsabilidade maior (e que também será cobrado por Deus em um nível diferenciado). Em nossas igrejas, denominamos esta pessoa como o “presbítero-sênior”. Ele não governa sozinho, porque sabe que isto é contrário à sabedoria divina (Pv 18.1) que nos ensina que a sábia direção está na multidão de conselheiros” (Pv 11.14). Contudo, nenhum dos conselheiros podem usurpar sua autoridade e a responsabilidade de tomar a decisão correta será cobrada do líder, não de seus ajudadores.

Entendo que no casamento temos algo parecido. A visão bíblica do homem como cabeça do lar não é algo do tipo “o homem sabe tudo e a mulher fique de boca fechada”. Pelo contrário, a Palavra de Deus nos mostra claramente que o homem não está sempre certo, e precisa de conselhos (obviamente não de uma mulher que “tome as rédeas” do lar). Se Nabal tivesse ouvido sua mulher Abigail, não teria experimentado o fim trágico que teve por ser tão cabeça-dura (1 Sm 25.37,38). Penso que esta é a razão pela qual temos tantos exemplos bíblicos neste sentido que nos foram registrados.

Veja a questão de Pilatos, por exemplo. Tirando o fato de que a farsa de seu julgamento nos proporcionou o sacrifício de Cristo (o que nenhum de nós jamais achará ruim), vemos como Deus foi justo com ele. Sua mulher mandou-lhe um recado importantíssimo na hora do julgamento:

“E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito”. (Mateus 27.19)

Aquele governador romano estava para cometer o que, talvez, possa ser chamada de a maior injustiça não só da história dos tribunais de Roma, mas de toda a humanidade (e em todos os tempos) e, ainda assim, Deus procura usar a esposa deste homem para adverti-lo! O fato dela dizer que sofreu nos sonhos, chamar Jesus Cristo de justo, pedir ao esposo que não se envolvesse, tudo me faz entender que ela recebeu uma advertência divina. Paulo diz aos coríntios que, se os poderosos deste mundo (o que é clara referência às autoridades judaicas e romanas) tivessem conhecido ao Senhor da Glória, jamais o teriam crucificado. Isso mostra que, mesmo a Escritura prevendo como estes homens errariam, não foi Deus quem os induziu a isto. Ao contrário, Ele até mesmo advertiu Pilatos quanto ao que ele estava por decidir.

Mas o ponto principal que destacar neste ocorrido é o seguinte: se a mulher aconselhar e advertir seu esposo, quanto a uma decisão a ser tomada, ela está errando? Ela está desrespeitando sua autoridade? É claro que não! Se fosse errado Deus não teria falado com ela! E há outros exemplos na Palavra de Deus sobre a mulher participar (com sua opinião e conselho) da decisão a ser tomada pelo marido. É o caso de Abraão e Sara, por exemplo. Na hora de tomar a decisão de mandar Agar e Ismael para longe de Isaque, o patriarca fica com o coração pesado e sua esposa o encoraja a tomar a decisão; então Deus fala com ele acerca do assunto:

“Disse, porém, Deus a Abraão: Não te pareça isso mal por causa do moço e por causa da tua serva; atende a Sara em tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência”. (Gênesis 21.12)

Ao dizer “atende a Sara em tudo o que ela te disser”, o Altíssimo, em outras palavras, estava dizendo a Abraão: “sua mulher está certa, está coberta de razão; e você deve ouvir seu sábio conselho”. Se fosse inaceitável que a mulher ajudasse ao marido, com sábios conselhos, quanto a tomar a decisão correta em seu governo do lar, você acredita que o Criador da família falaria assim com Abraão?

Isso não significa que a esposa tenha sempre a razão, da mesma forma como o marido também não tem, pois nenhum ser humano, em sua limitação e falibilidade, tem esta capacidade! O que estou dizendo é que há uma clara sinalização bíblica de que, no mínimo, a mulher possa opinar para ajudar seu marido nas escolhas. Falarei mais adiante acerca da importância do acordo entre o casal, mas aqui quero apenas destacar a participação da mulher como ajudante-conselheira do marido.

O papel de ajudadora da mulher é mais do que participar na distribuição de tarefas. Envolve também, além da função de conselheira, o aspecto de encorajadora. O marido não pode edificar seu lar sozinho, isso é algo muito claro na Palavra de Deus:

“A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba”. (Provérbios 14.1)

Algo que a mulher, na condição de ajudadora, deve entender é que ela tem uma grande capacidade de edificar ou derrubar sua casa (não o prédio onde moram, mas o lar). Infelizmente, algumas esposas não tem sabedoria alguma – nem reconhecem que deveriam estar buscando por sabedoria através de conselhos de pessoas mais experientes (Tt 2.3-5) e mediante oração (Tg 1.5).

Muitos maridos não recebem nenhum encorajamento e motivação para nada na vida por parte de suas esposas; elas são, mulheres insensatas que estão, aos poucos, levando seu lar abaixo! Por outro lado, a mulher sábia sempre ajudará na edificação do seu lar, fazendo jus ao célebre ditado: “por trás (eu prefiro a expressão ‘ao lado’) de um grande homem, sempre há uma grande mulher”. O que me faz lembrar a declaração de Matthew Henry: “A mulher foi feita de uma costela tirada do lado de Adão; não de sua cabeça para governar sobre ele, nem de seu pé para ser pisada por ele; mas de seu lado, para ser igual a ele, debaixo de seu braço para ser protegida, e perto de seu coração para ser amada.”

A ESPOSA DEVE SER SUBMISSA A SEU MARIDO

Um dos deveres claramente abordados na Palavra de Deus é o de que a esposa deve submeter-se ao seu marido. E isto envolve mais do que respeito, reflete o entendimento de governo do lar e da cadeia de comando estabelecida pelo Senhor:

“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido.” (Efésios 5.22-24)

A expressão “cabeça” aponta para a questão da liderança. E nós, que tememos a Deus e sabemos que devemos andar na Sua Palavra, não podemos nos amoldar aos valores mundanos de nossos dias de que não há distinção entre o homem e a mulher no casamento. Há uma forma correta de andar no Senhor:

“Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor”. (Colossenses 3.18)

É lógico que, do ponto de vista do valor que cada um de nós tem aos olhos de Deus, não há distinção alguma entre homem e mulher (Gl 3.28). Entretanto, as autoridades foram instituídas por Deus (Rm 13.1) e devemos respeitá-las! E isto não significa que, diante de Deus, as autoridades sejam pessoas de maior valor. Significa apenas que, em matéria de governo, elas estão numa posição diferenciada das demais (que são tão valiosas aos olhos de Deus como as que estão investidas de autoridade).

E, em matéria de governo do lar, o homem é e será sempre o cabeça, não a mulher. Esta ordem na cadeia de comando nunca pode ser quebrada. O apóstolo Paulo ensinava e determinava que a mulher não exercesse autoridade sobre o marido:

“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio”. (1 Timóteo 2.11,12 – NVI)

Apesar da Versão Revista e Atualizada de Almeida apresentar a frase “não permito que a mulher exerça autoridade DE homem”, dando a entender que só o homem pode fazer isto, as versões em português NVI (Nova Versão Internacional), as versões de Almeida REVISADA (IBB) e CORRIGIDA (SBB), a versão espanhola de Reina Valera, a versão italiana de Giovanni Diodati, as versões inglesas King James, American Standard, Webster e várias outras enfatizam a mulher não poder exercer autoridade SOBRE o marido, o que permite que as mulheres ensinem e exerçam autoridade sobre os que não são seus maridos. Se a mulher nunca pudesse ensinar ou exercer autoridade sobre nenhum homem, seria contraditório o que a Bíblia revela acerca de Débora, profetiza e que foi juíza em Israel.

Entendemos que a afirmação de Paulo a Timóteo significa, portanto, que em hipótese alguma, nem mesmo no exercício do ministério, a mulher pode usurpar a autoridade do marido – que é o cabeça do lar. Esta é a razão pela qual, ainda que eu creia no ministério das mulheres e as reconheça no pastorado, NUNCA, em nosso ministério estabelecemos uma mulher com autoridade pastoral sem que o marido também o seja estabelecido. Não é bíblico, nem mesmo na Igreja, estabelecer uma mulher em posição de autoridade sobre seu esposo!

Mesmo se o marido não é cristão, o apóstolo Pedro ainda o reconhece como cabeça do lar, a quem a mulher deve ser submissa (assim como os homens devem se submeter aos governantes mesmo que eles não sejam cristãos):

“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa.” (1 Pedro 3.1)

Penso que a palavra submissão deva ser melhor entendida. A palavra “submissão” que foi traduzida do original grego é “hupotasso”, e significa: 1) organizar sob, subordinar; 2) sujeitar, colocar em sujeição; 3) sujeitar-se, obedecer; 4) submeter ao controle de alguém; 5) render-se à admoestação ou conselho de alguém; 6) obedecer, estar sujeito. E, de acordo com o Léxico de Strong, ainda há uma importante observação acerca do uso desta palavra na época: “Um termo militar grego que significa ‘organizar [divisões de tropa] numa forma militar sob o comando de um líder’. Em uso não militar, era ‘uma atitude voluntária de ceder, cooperar, assumir responsabilidade, e levar um carga’.”

Quando olhamos para o conceito da palavra submissão, pode parecer exagerado e até assustador (mais para as mulheres do que para os homens). Mas devemos lembrar que a mulher deve se sujeitar ao marido como a Igreja se sujeita à Cristo (Ef 5.22-24). Em contrapartida, o marido deve governar e exercer sua autoridade como Cristo! E quando olhamos para a liderança de Jesus não vemos uma atitude de domínio, mas uma liderança servidora. Assim como Pedro advertiu os presbíteros a não serem dominadores do povo que governam (1 Pe 5.3), entendo que também o marido não deve ser um controlador. Autoridade é liderança funcional, não domínio (já detalhamos isto no capítulo anterior).

No entanto, mesmo que o marido não levante um cetro de domínio em sua casa, sua autoridade deve ser respeitada. Paulo advertiu que quem resiste à autoridade traz sobre si condenação (Rm 13.2). Assim como os filhos devem honra aos pais, e isto traz bênçãos sobre suas vidas (Ef 6.1-3), também a esposa deve respeito ao seu marido (Ef 5.33) e isto também trará bênçãos sobre sua vida!

A MULHER DEVE SER ADMINISTRADORA DO LAR

Nesta parceria do casamento temos o homem como cabeça e a mulher como sua ajudadora. Isto significa não apenas o auxilio da esposa por meio de conselhos, como também envolve distribuição de tarefas a cada um dos cônjuges. O fato do homem ser o responsável pelas decisões não significa que ele tenha que centralizar as tarefas. Algumas delas são claramente designadas às mulheres. Por exemplo, de quem é a responsabilidade de administrar o lar?

A Bíblia refere-se às mulheres como “donas de casa”; encontramos este tipo de afirmação tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. A viúva que hospedou Elias foi chamada assim (1 Re 17.17) e na epístola de Paulo a Tito, as mulheres, de forma generalizada também são assim denominadas (Tt 2.5). Isto não quer dizer que a casa seja só delas, mas que o dever e a responsabilidade do cuidado e condução do lar (com suas tarefas) pertence à esposa.

Encontramos textos bíblicos que falam do homem cuidando dos “trabalhos de fora” (Pv 24.27), que na época envolviam a lavoura, a caça e os negócios a serem feitos. É por isso que a mulher adúltera mencionada no Livro de Provérbios refere-se ao marido que foi viajar (Pv 7.19,20), porque isto era dever do homem e não da mulher. E quem cuidava da casa e dos filhos na ausência do marido (que tem como um dos seus deveres ser o provedor do lar) era a mulher.

O trabalho da mulher sempre foi uma parceria com o homem. Ele caça e pesca, ela cozinha. Ele apascenta o rebanho e ela cuida da tosquia e de recolher o leite. Ele colhe o fruto da terra e ela prepara. Ele traz tecido ou couro e ela confecciona as roupas. Os detalhes da economia, do funcionamento da industria e do ganho do pão diário mudaram muito, mas a ideia divina de parceria permanece a mesma!

O Livro de Provérbios apresenta uma mulher que conduz com maestria a administração de seu lar:

“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias. O coração do seu marido confia nela, e não haverá falta de ganho. Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida. Busca lã e linho e de bom grado trabalha com as mãos. É como o navio mercante: de longe traz o seu pão. É ainda noite, e já se levanta, e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas. Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com as rendas do seu trabalho. Cinge os lombos de força e fortalece os braços. Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada não se apaga de noite. Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca. Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado. No tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate. Faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de púrpura. Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra. Ela faz roupas de linho fino, e vende-as, e dá cintas aos mercadores. A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações. Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua. Atende ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça”. (Provérbios 31.10-27)

Penso que a frase “atende ao bom andamento da sua casa” deixa muito claro este papel da administração do lar. Fico cansado só de ler esta lista de trabalho! É por isso que o texto diz acerca da mulher virtuosa: “e não come o pão da preguiça”. O trabalho do lar não é leve e nem tampouco insignificante. Não é tarefa para alguém despreparada. Se a mulher ajudar o marido na administração financeira, certamente fará com os ganhos familiares se multipliquem!

A mulher ser boa dona de casa é algo que se aprende. E também era parte da mensagem pregada pela Igreja do Senhor Jesus desde o seu início:

“Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”. (Tito 2.3-5)

Alguns grupos cristãos são contrários à ideia das mulheres trabalharem fora. Não estou advogando isto, em hipótese alguma. A parceria de trabalho do casal, que apresentamos há pouco, mostra as mulheres desempenhando tarefas de alta responsabilidade e, com a mudança de configuração atual do modelo de trabalho e sustento, é justo que o envolvimento da mulher num mercado de trabalho também mude. Por exemplo, é evidente que elas já não tecem com as mãos toda a roupa da casa!

Penso que a questão a ser abordada não é a esposa trabalhar ou não fora, e sim se o fato de trabalhar fora irá interferir em seus deveres como esposa (e mãe). Ao falar sobre o dever dos maridos, como provedores do lar, comentei que há muitas situações em que a mulher também trabalha fora e coopera com o sustento da casa. Não creio que isto seja errado desde que o cuidado do marido e dos filhos não seja comprometido (o que, infelizmente, não tem acontecido com muitos casais que trabalham fora).

Quando Kelly e eu nos casamos, ela cursava a faculdade pelas manhãs, trabalhava às tardes e me ajudava no ministério às noites. E é lógico que eu, por outro lado, a auxiliava nas tarefas do lar, limpando a casa, fazendo compras, cozinhando (muito pouco), lavando a louça e as roupas (a exceção ficava por conta de passar a roupa que, antes de casar, prometi a ela só fazer em situações de extrema emergência). Acredito que se é correto a mulher ajudar o marido a trazer o sustento para o lar, também é correto que o marido a auxilie com os filhos e as tarefas da casa. Embora vale ressaltar que nossos acordos nesta distribuição de tarefas sempre se ajustou em períodos em que pudemos contratar alguém para trabalhar em nossa casa ajudando-nos principalmente com as questões da limpeza.

Porém, quando nossos filhos nasceram, ajustamos algumas coisas para que a Kelly não negligenciasse seu papel de mãe (o que ela sempre fez fantasticamente bem); ela concluiu seus estudos e passou a trabalhar somente às tardes e sair bem menos do que antes às noites. Como minha esposa é pedagoga e trabalhava sempre no horário em que matriculamos as crianças na escola, seu tempo fora de casa nunca interferiu no cuidado das crianças (aliás as crianças só estudavam na escola em que ela trabalhava, portanto sempre estavam indo e voltando juntos). Mesmo hoje, no ministério em tempo integral, salvo raras exceções, a Kelly dedica as manhãs para os filhos e a casa.

A MULHER DEVE SER AMANTE DE SEU MARIDO

Na Lei de Moisés houve permissão tanto para o divórcio como para a poligamia (embora esta permissão envolvia o curioso fato de um homem ter mais de uma esposa mas nunca uma esposa ter mais de um marido). Porém, já vimos que Jesus declarou que Moisés permitiu estas coisas pela dureza do coração do homem e enfatizou que não foi assim no começo (nem seria mais assim a partir de então). O fato é que quando Deus criou Adão o presenteou com uma única esposa.

O plano divino é que cada marido tenha sua esposa e que casa esposa tenha seu marido, pois o que foge disto é prostituição (1 Co 7.1,2). Porém, vale destacar que, justamente depois de estabelecer este fundamento de monogamia (e derrubar a prática da poligamia mostrando ser ela nada menos que prostituição), o apóstolo Paulo ensina uma das coisas mais importantes para proteger o matrimônio (agora do adultério, outra forma de impureza): uma vida sexual saudável, com fidelidade e também com intensidade – com qualidade e também com quantidade!

Falarei mais adiante (em dois capítulos) sobre este dever conjugal do sexo. Mas quero deixar aqui uma palavra de advertência às esposas. É claro que, sempre que generalizamos, acabamos sendo injustos com alguns. Mas, se o conselho serve para a maioria, deve ser dito. Se não servir para você, pessoalmente, pode ao menos ajuda-lo a entender e ajudar os outros. O recado é o seguinte: muitas mulheres (cristãs) estão “empurrando” seus maridos (cristãos) para o adultério! Paulo declarou algo importante sobre a intensidade e frequência do ato conjugal que muitos casais não tem dado atenção:

“Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência.” (1 Coríntios 7.5)

Deus mandou suprir esta necessidade de seu cônjuge, não mandou você boicotá-lo! Negligenciar a intimidade é dar brecha para que o inimigo entre num casamento. Mas muitas mulheres acham que devem decidir se o marido merece o momento de intimidade… Sexo é dever, é dívida! Se fluir em amor e romantismo, melhor. Se não, com o perdão da expressão, que seja o cumprimento do dever!

Deixe-me dizer-lhe uma coisa: muitas mulheres que acham que o sexo deve ser uma recompensa ao comportamento do marido estão, na verdade, se prostituindo. Sei que isto parece muito chocante para algumas irmãs, mas deixe-me expor o raciocínio antes de você se defender. Ao agir assim, estas esposas estão se vendendo em troca de um presente, de um favor, de uma atitude… Pode não ser por dinheiro, mas elas estão se vendendo! O sexo não é um negócio, mesmo que a “moeda” de troca seja emocional. Não pode ser fruto de uma mentalidade sanguessuga; é uma entrega, é uma expressão de amor (sacrificial, se for o caso), é uma doação – não uma venda (pois a partir do momento que tem haver algum tipo de pagamento, ainda que emocional, tornou-se uma venda).

Sei que há exceções, mas via de regra, as mulheres se omitem mais nesta área do que os homens. A explicação pode ser só natural, como diz o casal australiano Alan e Bárbara Pease (“Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor” – Editora Sextante) que afirmam o hipotálamo (região neurológica ligada ao apetite sexual) do homem chega, em alguns casos, a ser dez vezes mais desenvolvido que o da mulher.

De qualquer forma, independentemente de ser homem ou mulher, ou mesmo de qual seja o “ritmo” de cada um, a frequência da vida sexual deveria ser determinada não pelo seu próprio desejo, e sim pela necessidade de seu cônjuge. Lembrando também de outro valor bíblico:

A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce.” (Provérbios 27.7)

Se você mantém seu cônjuge saciado, suprido, pode surgir as mais tentadoras propostas de infidelidade e ele certamente vai pisá-las. Entretanto, para aquele que não tem sido suprido, qualquer oportunidade de pecado que surgir, e digo qualquer mesmo, pode ser muito atraente e sedutora!

A palavra hebraica traduzida para a alma “farta” é “ebs”, e significa: “saciado, satisfeito, empanturrado, farto”. A mulher deve proteger seu marido de outras mulheres e da tentação maligna não só orando por ele, mas servindo-o muito bem nesta área.
 
Autor: Luciano Subirá
Divulgação: estudosgospel.com.br

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Malaquias - Chega de Brincar de Religião!

Nas nossas Bíblias, Malaquias é o último livro do Antigo Testamento. O nome deste profeta quer dizer “meu mensageiro”, significado que bem descreve sua missão de comunicar uma das últimas mensagens do Senhor ao seu povo antes da chegada de Jesus Cristo. Malaquias foi escrito aproximadamente 400 anos a.C., mais ou menos um século depois da volta dos judeus do cativeiro na Babilônia.

Neste livro, o profeta trata de alguns dos mesmos problemas enfrentados pelos seus contemporâneos: Esdras e Neemias. Malaquias combateu a negligência e a hipocrisia, mesmo dos líderes religiosos. Confrontou o desprezo demonstrado pelo povo dos princípios divinos para o casamento. Criticou a mesquinharia de um povo que se preocupava com seu próprio bem-estar material enquanto negligenciava suas responsabilidades para com Deus.

Malaquias inclui, porém, uma mensagem esperançosa que olha para a vinda do Messias. Este profeta, como Isaías havia feito 300 anos antes, falou da vinda de João Batista para preparar o caminho do Cristo. Ele comparou João a Elias, um profeta do Antigo Testamento com algumas características parecidas.

Este pequeno livro trata dos seguintes assuntos:

Capítulo 1 chama atenção do povo judeu por não ter retribuído ao Senhor a honra e amor que ele merece. Especialmente, Deus condena as práticas dos sacerdotes que deveriam ter dado para Deus as primícias, mas ofereciam sacrifícios inferiores.

Capítulo 2 continua a crítica dos líderes religiosos, mostrando sua negligência em abandonar as obrigações dos descendentes de Levi e mostrar a santidade diante do Senhor e instruir o povo sobre a grandeza de Deus. No mesmo capítulo encontramos uma das mais fortes repreensões na Bíblia da prática do divórcio, comparando a quebra desta aliança à violência. Esta infidelidade é motivo do Senhor rejeitar a adoração das pessoas que não cumpriram seus votos matrimoniais.

Capítulo 3 prediz a vinda de um mensageiro para preparar o caminho do Senhor, uma profecia aplicada a João Batista e seu trabalho como precursor de Jesus. Neste capítulo, também, ele fala de um problema nas práticas religiosas da época, criticando os judeus que não davam os dízimos que a lei do Antigo Testamento exigia.

Capítulo 4 encerra o livro como uma nota final de esperança para o povo do Senhor. Comenta de novo do mensageiro que ajudaria o povo a voltar e se converter ao Senhor para evitar a rejeição total.

O livro de Malaquias é citado com grande frequência nas pregações dos dias atuais. Os defensores da teologia da prosperidade frisam alguns versículos, especialmente a ordem de Deus sobre os dízimos em Malaquias 3:10, para ensinar que as pessoas que dão o dízimo com fidelidade serão abençoadas materialmente. O aluno cuidadoso perceberá o erro deste argumento, pois a ordem e a promessa de Malaquias fazem parte do sistema do Velho Testamento, uma aliança temporária entre Deus e o povo judeu. Nas passagens do Novo Testamento que falam sobre o dinheiro das igrejas, encontramos instruções de dar conforme a prosperidade de cada um, sem estipular uma porcentagem obrigatória (1 Coríntios 16:2; 2 Coríntios 9:7).

Se vamos aproveitar alguma lição de Malaquias para as igrejas de hoje, ajudaria refletir sobre o princípio ensinado no primeiro capítulo do livro. Quando Deus viu a falta de santidade e de dedicação por parte dos adoradores daquela época, ele falou que seria bom se alguém fechasse as portas do templo para não permitir a adoração insincera (Malaquias 1:10). Em outras palavras, ele pediu para parar de brincar de religião. Ou faça o certo, ou feche as portas!
Texto de: Dennis Allan 
 Divulgação: EstudosGospel.Com.BR 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

COMO SER LIBERTO DA AMARGURA

 
 
Esta porção da Palavra nos orienta a nos despojarmos de toda a amargura. É fácil perceber quando alguém sente amargura no coração: seus olhos e os traços do seu rosto o denunciam, ainda que a pessoa seja bem nova! Pode-se entrever a amargura nos lábios dessa pessoa, em seus risos c sorrisos. Há um toque amargo neles, e pode-se notar isso com nitidez. O seu tom de voz também o denuncia. Percebe-se amargura em seu jeito de falar quando... protesta e alega que não sente amargura alguma! Este é um sentimento que ocupa o nosso íntimo e que se ramifica por todas as áreas do nosso ser.
A Bíblia nos apresenta várias pessoas que padeceram deste mal. Por exemplo: Jonas. O Senhor lhe perguntou: “É razoável essa tua ira por causa da planta?” E a sua resposta foi: “É razoável a minha ira até à morte” (JONAS 4.9).
Ele sentia-se no direito de amargurar-se. “Eu mereço amargurar-me. Senhor não concordo com que o Senhor perdoe o povo. Eu não quero que o perdoes”.
Gostamos de guardar rancor contra os outros. Todavia, o nosso texto nos ordena que nos livremos de toda a amargura e que mantenhamos uma atitude de compaixão em nosso coração. Surge, então, uma pergunta: é possível ser benigno, compassivo, ter um coração misericordioso e, ao mesmo tempo, sentir amargura? Benignidade, compaixão, misericórdia e amargura são todas atitudes do coração. Por definição, a misericórdia está ligada ao coração. Mas a amargura, também. E não é possível ter duas atitudes contrastantes e contraditórias no coração.
O texto nos manda que nos livremos de toda a amargura e que sejamos benignos e compassivos uns para com os outros. Assim, é preciso que a amargura seja dele erradicada. Porém, antes que possa ser removida de nós, é preciso duas coisas: que saibamos o que é a amargura, e que reconheçamos a sua presença em nós.
É relativamente fácil notar quando os outros estão com amargura no coração. Mas não é fácil reconhecermos a mesma coisa com relação a nós mesmos. Torna-se, portanto, essencial que tenhamos uma compreensão clara da definição que a Bíblia traz neste problema.
Suponhamos que um crente cometa um pecado. Minta, por exemplo. Quando ele cometer esse pecado, sentir-se-á culpado, ou amargurado? A resposta é: culpado. Quando pecamos, sentimo-nos culpados. Não há dúvida.
Suponhamos, agora, que alguém levantou uma calúnia contra esse crente, espalhando-a pela cidade inteira. Que ele irá sentir: culpa ou amargura? Amargura.
Sentimos culpa quando pecamos. Sentimos amargura quando alguém peca contra nós. A própria definição de amargura sugere a ação de outra pessoa. Se fôssemos nós que tivéssemos cometido a ofensa, sentir-nos-íamos culpados, compreendendo que teríamos que confessar e abandonar o nosso pecado.
Poderemos até não confessar o nosso pecado, mas não por não sabermos que deveríamos fazê-lo. Mas, o que fazer com a culpa dos outros? A amargura sempre fundamenta-se no pecado cometido por outrem — pecado esse que realmente tenha sido cometido ou que imaginamos ter sido cometido.
Pensemos, inicialmente, no “pecado imaginário”. Muitas vezes sentimos amargura contra uma pessoa por alguma coisa que ela tenha dito, sem que ela realmente tenha dito o que pensamos. Demos ouvido a um comentário mentiroso, e tornamo-nos amargurados. E ficamos esperando que essa pessoa venha pedir-nos perdão quando ela não tem de que pedir perdão. Será que devemos passar o resto da vida com amargura no coração porque ela nunca veio pedir perdão por um pecado que não cometeu?
Ocorre que muitas pessoas nem sequer consideram a possibilidade de estarem amarguradas por causa de pecados imaginários, ou seja, pecados que nunca realmente aconteceram. Para elas, em sua amargura, o pecado da outra pessoa é absolutamente real. Para gente assim, é suficiente que decidam pela culpa de quem “pecou” contra elas, desde que obedeçam ao texto bíblico em foco.
Mas, que fazer quando alguém realmente houver pecado contra nós? Há muitas pessoas com amargura no coração porque foram mesmo magoadas por alguém. Como agir nesses casos?
A amargura está ligada a algum pecado que, de algum modo, foi cometido contra nós. Não se baseia tanto na extensão do pecado, mas no quanto ele tem a ver com a nossa pessoa. Por exemplo, se uma imoralidade grande e grosseira acontecer n Irã, Iraque, El Salvador ou Colômbia, qual a nossa reação? Lemos sobre o ocorrido, mas não sentimos culpa alguma. Lemos sobre ele, mas não sentimos amargura. Poderemos nos sentir consternados, estarrecidos, ou algo semelhante, mas não nos sentimos culpados ou amargurados. Todavia o pecado cometido foi horrível, e alguém o cometeu! O que estou demonstrando é que a amargura não depende da extensão do pecado, mas do quanto ele fere a minha pessoa. A minha amargura está diretamente relacionada às pessoas que me rodeiam.
Que pessoas estão mais sujeitas a sofrer amargura? A resposta é simples: pais, mães, irmãos irmã, maridos, esposas, filhos, namorados, noivos, colegas de pensionato, chefes, subalternos, colegas de trabalho, sócios e, também, mais alguns parentes — avôs, tios e outros. Há, também, muitas pessoas amarguradas contra Deus.
Nós não nos amarguramos pelo pecado cometido fora do nosso próprio círculo imediato de relacionamento. A amargura nasce do pecado cometido por alguém ligado a nós, pecado esse que nos afetou. Pode ser uma coisa bem pequena. Não precisa ser algo grandioso — basta que nos afete. Ele tem o costume de largar as meias sujas no chão do quarto? Você fica amargurada por causa disso? Bem, talvez não da primeira vez que o fizer, mas... e se ele repetir esse comportamento umas 5.000 vezes?
E provável que você pense que tem o direito de amargurar-se. Todavia, a Bíblia não concede esse direito a quem quer que seja. A passagem em foco nos manda acabar com toda a amargura.
“Atentando diligentemente por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hebreu5 12.15).
Aqui, a Palavra descreve a amargura como sendo uma raiz. Raiz é algo que fica debaixo da terra, e não pode ser visto. Poderá haver evidência da sua presença — por exemplo, quando uma calçada racha e se quebra.
As raízes fazem outras coisas, também. O fato de não as vermos não significa que não estejam lá. Nem que jamais poderemos vê-las. Elas se alimentam e não ficam eternamente sem crescer e manifestar-se.
Os frutos estão diretamente relacionados às raízes que os produzem. A raiz da macieira produz maçã. Se houver uma raiz amarga, seu fruto será amargo.
E isto o que ensina este versículo. Cuidado para que nenhuma raiz de amargura se manifeste, cause problemas e contamine a muitos, ou seja, venha a tornar muitas pessoas sujas também. Você já viu a amargura espalhar-se no seio de uma igreja’? Ela pode grassar uma comunidade como o fogo uma campina. Pode alastrar-se no nosso trabalho, ou na pensão onde moramos. Por quê? Porque alguém decidiu abrir-se. Havia amargura cm seu coração e decidiu permitir que essa raiz se manifestasse e desse o seu fruto. “Abriu-se” com alguém, e muita gente veio a ficar amargurada, também. O autor de Hebreus nos adverte quanto a este perigo. Ele diz: cuidado para não se separar da graça de Deus. Quando você se deixa envolver pela amargura, ela se manifesta e contamina muitas outras pessoas. Suja muita gente.
O que acontece à pessoa que guarda em seu íntimo o rancor por muitos anos? Há alguma conseqüência física? Pode ficar fisicamente doente? Sim. Às vezes, tudo por causa da amargura guardada contra um parente seu. A pessoa decidiu não exteriorizar a sua amargura. Não contaminou outros — guardou tudo no fundo do coração. Com o passar dos anos, começa a ter um problema de saúde. Vai ao médico, e este lhe diz: “Verdade, você está doente. Mas eu não trato do seu caso. Vou enviá-lo para um especialista”.
E assim, o médico a envia para um psiquiatra. Este concorda com o seu colega: “Verdade, você está mesmo doente. E eu sei porque. Você está assim porque há 20 anos vem guardando amargura contra o seu pai. Você se reprimiu esse tempo todo, e se destruiu interiormente. Você guardou esse veneno no seu íntimo, o que gerou esta enfermidade física. O que eu quero que você faça é o seguinte: vá para casa e se abra com o seu pai. Por que se reprimir e adoecer? Libere o que está lá dentro. Contamine toda a sua família!”.
Assim, o mundo apresenta duas soluções para o caso: conservar no íntimo o rancor e ficar doente fisicamente, ou liberar o rancor e contaminar todos os que estiverem ao nosso redor. A solução de Deus é: arranque a raiz! Livre-se dela! Mas, para isso, precisamos da graça de Deus. E preciso que se conheça realmente o Senhor Jesus Cristo para que se consiga isso. Ele é a fonte de toda a graça.
As soluções que o mundo sugere para o problema da amargura jamais devem ser aceitas pelos crentes. Quando estes copiam o mundo, só têm duas escolhas paupérrimas a fazer. E a Palavra diz que temos que nos livrar de toda amargura — não podemos guardá-la em nosso íntimo, e nem podemos liberá-la. Temos que rendê-la ao Pai, por meio de Seu filho .Jesus.
“Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins” (Tiago 3.14-16).
Quando eu era moço, aspirante da Academia Naval, pensava que à medida que as pessoas ficassem mais velhas, amadurecidas, deixavam de lado toda mesquinhez e inveja. Pensava que, quanto mais graduado você fosse, mais amadurecido você se tornava, e menos sujeito a esse tipo de coisa. Todavia, à medida que fui envelhecendo percebi que a inveja tornava-se ainda mais intensa. A amargura se acumula. A não ser que solucionem o problema, as pessoas não se tornam menos amargas com a maturidade. Os anos as tornam mais amargas ainda. A tendência é piorar cada vez mais.
Se você der guarida à amarga inveja, isso resultará em prática pecaminosa. E isso não vem do céu — vem do inferno, e provém do diabo. Toda prática pecaminosa é gerada por esse tipo de atitude. Está claro que temos diante de nós um grande problema: como nos livrar da amargura?
Antes que possamos livrarmo-nos dela, precisamos aceitar do fato de que nós abrigamos a amargura em nossos corações. Como saber se temos amargura?
Uma boa “dica”: a. pessoa amargurada lembra-se dos detalhes. Você já conversou milhares de vezes na sua vida, tendo-se esquecido da maioria dessas conversas. Todavia, há uma conversa, particularmente, que ocorreu a cinco anos, da qual você se lembra de cada palavra e da entonação e inflexão da voz da pessoa com quem conversou. Você se lembra claramente de tudo o que aconteceu. Isso quer dizer que você guardou rancor.
Alguém poderá objetar dizendo que podemos nos lembrar claramente de uma conversa agradável. Verdade? Sim, mas, nem tanto. Por quê? Porque a nossa memória recebe uma grande ajuda da recapitulação — eu fico repassando as coisas que me acontecem. E, geralmente, as pessoas não “ruminam” muito as boas coisas que lhes acontecem. Preferem reviver vez após vez o que de mau lhes sucede. Tenho aconselhado muita gente que pretende divorciar-se. Algumas delas, conhecidas desde tempos mais felizes de sua vida conjugal. Todavia, à época de separação, não conseguem lembrar-se de um só momento feliz. Só se lembram daquilo que têm repassado em seus corações. Estão cheias de rancor.
Isso não quer dizer que não houve momentos felizes. Mas o fato é que elas canalizaram toda a sua visão para a sua retidão e justiça e para os erros e defeitos do cônjuge. Se você guarda lembrança acurada, detalhada, de coisas que lhe aconteceram a anos, quando você era criança ou jovem, e se essa lembrança acusa alguém, isso é indicação de que há amargura no seu coração. E a solução para a amargura é desarraigá-la.
Certa vez tive uma experiência maravilhosa na cidade de Dallas, no Texas. Eu iria falar num sábado à noite, na casa de um velho amigo. Sabendo que iria estar lá, decidi comunicá-lo a diversas pessoas que eu conhecera anteriormente em outros lugares, e que agora estavam em Dallas. E elas foram à reunião.
Eu fora convidado para falar a respeito do problema da amargura. Ao final, um casal me procurou. Eu os conhecera 8 anos antes na cidade de Pullman, Washington. A esposa disse-me o seguinte: “Estamos casados a 8 anos. No primeiro ano do nosso casamento cu sentia uma raiva enorme da minha mãe, e todos os dias despejada tudo no meu marido. O nosso primeiro ano de casados foi terrível porque eu ficava contaminando o meu marido com o rancor que sentia contra a minha mãe”.
Ela, então, me disse que há 7 anos me ouvira falar sobre a questão da amargura, e decidira solucionar cabalmente o seu problema, o que realmente aconteceu! Mais tarde, encontrou-se com uma senhora que também guardava rancor contra a mãe. Pensou: “Eu posso ajudá-la! Posso falar com ela sobre a nossa experiência comum”. “Fui conversar com ela”, disse-me, “mas não conseguia me lembrar dos detalhes do meu ex-problema. Estes haviam sido apagados da minha memória! A única coisa que pude dizer a ela foi: “eu costumava lembrar-me de tudo, mas agora não consigo mais”. O Senhor havia verdadeiramente resolvido a questão do rancor no coração daquela mulher.
De outra feita eu estava ministrando um curso de quatro semanas sobre casamento. Eu havia colocado um anúncio no jornal, e não podia imaginar que pessoas viriam para participar. Veio uma senhora, por indicação de um médico. Quando entrou, confesso que honestamente nunca havia visto uma pessoa cuja aparência revelasse mais amargura do que a dela. Trazia consigo quarenta anos de amargura acumulada. Foi liberta naquela noite, e marcamos uma conversa para o dia seguinte, na livraria onde cu trabalhava. Ao entrar na loja, não a reconheci! Sua aparência era outra! Eu a conhecera há tão pouco, mas sabia que o seu Intimo fora purificado!
Mas qual é o problema? Por quem não nos libertamos da amargura? Se eu conto uma mentira, posso confessá-la e ser perdoado. Mas, para libertar-me da amargura é preciso que eu tenha uma visão bem nítida e honesta da sua presença no meu coração. Isso porque sou muito tentado a concentrar-me na atitude do ofensor, ao invés de concentrar-me na atitude do meu próprio cora ção. “Veja o que ele fez!”.
E assim quem age a amargura — essa é a sua natureza. Para poder livrar-me dela tenho que reconhecer a sua presença no meu coração, antes que eu possa confessá-la e abandoná-la.
Alguém dirá: “Não sou um indivíduo amargo. E só que me magôo com facilidade”. Acontece que os sintomas da mágoa estão muito próximos aos do ressentimento. Sabe como age õ ressentimento?
A amargura é o ressentimento acondicionado e acariciado no coração. E o ressentimento rançoso e decomposto. À medida que permanece no coração, vai apodrecendo mais e mais.
Inicialmente, poderá não se tratar de amargura — apenas uma “magoazinha”. Todavia, essa magoazinha é algo bem próximo do ressentimento. Ela se transforma facilmente em ressentimento. E o ressentimento e a amargura são parentes bem próximos. O ressentimento “vira” amargura profunda.
Trata-se de uma cadeia. A amargura, por sua vez, está bem próxima do ódio, e a Bíblia demonstra haver uma íntima ligação entre o ódio e o assassinato. Sim, a mágoa pode levar uma pessoa ao crime. Alguém poderá dizer que estou exagerando. Este “exagero” é bíblico.
O meu desejo é que fique bem claro que a amargura é pecado. A pessoa amarga deve, em primeiro lugar, reconhecer a sua amargura, e, também, reconhecer que este é um pecado grosseiro. E a razão por que geralmente não tratamos desse pecado é por pensarmos que se trata de um pecado cometido pela outra pessoa e, não, por nós mesmos. O diabo nos diz: “Olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele deixar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado”.
Mas, e se essa pessoa nunca abandonar o pecado? Será que você irá continuar vivendo em amargura até o fim da vida porque essa pessoa insiste em permanecer no pecado? Isso é um absurdo! Se você disser: “Eu só irei perdoá-lo quando ele me pedir perdão — tenho direito a sentir amargura até que ele tome a iniciativa e me peça perdão — mas, quando o fizer, eu irei perdoá-lo e tudo acabará bem”, você conserva a barreira da amargura. Quando um dia a pessoa vier e lhe pedir perdão, será que você poderá perdoá-la? Não, porque a amargura não perdoa. A fim de que você possa perdoá-la, antes que ela venha pedir-lhe perdão é preciso que tudo já esteja acertado dentro de você. E, se tudo estiver acertado no seu coração, então você não dependerá de a pessoa vir ou não lhe pedir perdão. Ou seja, a solução do problema da amargura é unilateral: não depende da atitude da outra pessoa.
Já vimos que o rancor está ligado ao pecado de outrem — pecado esse real ou imaginário. Bem, direito que é por esse meio que a amargura se manifesta, pois, na realidade, a amargura é um pecado independente. A pessoa rancorosa escolhe ser assim, independentemente do ofensor.
Alguém dirá: “Não! Fulano pecou contra mim! Quando ele me pedir perdão, tudo estará resolvido”. Isso não é verdade.
Sei de casos onde o perdão foi pedido, e as pessoas continuaram amarguradas. E mais: e se o ofensor morrer, não mais podendo pedir perdão? Conheço pessoas extremamente amarguradas, e essa amargura é contra os seus pais, falecidos há anos. Só que a amargura não morreu. A amargura é o pecado pessoal do indivíduo rancoroso, e não depende de quem quer que seja.
Certa vez fui passar o dia com os internos da Penitenciária Estadual Walla Walla. Era época de Natal. Fiquei lá por umas 6 horas. No período da tarde, fui ao setor de segurança máxima, onde falei e ensinei sobre evangelização.
Alguém fez uma pergunta sobre como alcançar os criminosos realmente inveterados. Ele me fez pensar que estava realmente interessado nesse ministério e conversamos sobre o assunto. Depois, fui a outros setores da penitenciária, de menor periculosidade. À noite, voltando à segurança máxima, pensei em falar sobre amargura. Imaginei que seria bem provável haverem ali pessoas amargas, rancorosas. O mesmo indivíduo que me fizera a pergunta sobre evangelização no período da tarde, fez-me outra pergunta: “Corno uma pessoa poderá livrar-se do rancor contra alguém que surrou o seu filhinho de três anos de idade sem dó nem piedade?” Eu lhe oferecido a resposta, e acrescentei: “Veja: quando você livrar-se da sua amargura, poderá ajudar essa pessoa de maneira que não venha a fazer a mesma coisa a outras criancinhas”.
Ele respondeu-me: “Não! Não dá para ajudar esse cara”.
Objetei: “E claro que dá!”.
“Não, não dá”. “Por quê?”
“Ele já não está mais aqui”.
O interno havia assassinado o ofensor. Ele o matara por causa do que fizera ao seu filhinho de 3 anos de idade — era por isso que estava preso. E, apesar de ter matado o homem, continuava amargurado. Ou seja, “liberar” a amargura não resolve a questão — não nos livra dela.
Se a pessoa pedir perdão, isso não resolve o nosso problema íntimo com a amargura. A única solução cabal para esse problema é a confissão diante de Deus por causa da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Esta é a única solução.
Não podemos guardar a amargura dentro de nós, e também não podemos passá-la aos outros. A única coisa que devemos fazer é confessá-la, reconhecendo-a como um pecado grande e terrível. E devemos ser persistentes nessa confissão, quanto for necessário.
Certa vez eu estava falando numa escola de pós-graduação da Marinha, em Monterey, na Califórnia. Estava lá uni homem muito conhecido por ensinar a Bíblia. Era oficial da Marinha. Mas tinha sido passado para trás na lista dos que iriam comandar um submarino. Não se tornou o comandante, e ficou amargurado. Falei sobre a confissão do pecado e da amargura, e ele sentiu-se profundamente tocado. Conversamos, e ele acabou com a amargura por causa desse incidente. Na manhã seguinte, a esposa dele me disse: “Tenho um novo marido!” Ele guardara rancor contra a Marinha. O pecado era dele, não da Marinha.
Amy Carmichael certa ocasião fez um comentário a respeito de como um copo repleto dc água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar, quando for sacudido? Água doce. Se você sacudir o copo com mais força, que irá acontecer? Mais água doce irá sair. Se uma pessoa está transbordando com água doce e alguém lhe dá uni solavanco, que irá sair dela’? Água doce. Os solavancos não transformam a água doce em amarga. A amargura vem de outra fonte.
Os solavancos só fazem sair do copo aquilo que já está dentro dele. Se você estiver cheio de luz e doçura e sofrer um choque, irá derramar luz e doçura. Se você estiver cheio dc mel, é mel que sairá. Se sair vinagre, isso será prova de que? O vinagre irá mostrar aquilo que já estava dentro do copo. Resumindo: uma grande amargura não depene do que alguém fez contra nós; é o resultado do que nós somos e fazem os.
Há muitos anos eu estava trabalhando em minha escrivaninha, em nosso quarto. Bessie, a minha esposa, estava na cama, lendo, e eu, trabalhava na escrivaninha. O meu trabalho não estava se desenvolvendo a contento. A Bessie me disse alguma coisa, e eu me voltei a ela e explodi, falando asperamente. Foi uma atitude anticristã. Ela olhou assustada para mim, levantou-se, e saiu do quarto. Eu fiquei lá, sentado, pensando: “Ela não deveria ter falado assim comigo! Olhe só o que ela disse! Olhe só!”. Fiquei assim por uns 10 minutos ou mais. Eu sentia amargura contra a Bessie. Mas, tudo o que ela fêz foi chacoalhar o copo. O que saiu, foi o que estava lá dentro. Se eu estivesse cheio de doçura e luz, o que ela disse não teria me afetado. Fiquei sentado só pensando no que ela fez. Aquela época, eu já aprendera esta verdade a respeito da amargura. Mesmo assim, fiquei me concentrando no “pecado” que ela cometera. Isso porque temos prazer em ficar acusando os outros. Há pessoas que o fazem por anos!
Fiquei sentado ali por algum tempo. Depois, levantei-me, fui para o meu lado da cama, ajoelhei-me, e disse: “Senhor, a culpa é toda minha. A amargura é minha e o pecado é meu. Eu o confesso e o abandono. Por favor, perdoe-me”.
Eu me levantei, e pensei: “Mas... olhe só o que ela fez!”. Ajoelhei-me novamente “Senhor, perdoa-me. A culpa é minha. O pecado é somente meu”.
Levantei-me, e pensei: “Senhor, nós dois sabemos de quem é a culpa”. Ajoelhei-me de novo. Permaneci de joelhos por 45 minutos, até que pude levantar-me sem dizer: “Olhe só o que ela disse”.
Hoje não sei mais o que ela disse, e nem me lembro do que eu estava fazendo na escrivaninha. Não me lembro dos detalhes. A única coisa de que me lembro foi que me levantei. Mas tenho certeza de que se eu não tivesse tratado da questão da amargura, até hoje eu me lembraria exatamente do que ela disse. A amargura é assim. E para livrar-se dela é preciso que você reconheça que ela é um mal, e que é um pecado seu e tão-somente seu. Não é possível acabar com ela por meio de um pedido de perdão do ofensor. Não é possível livrar-se dela se a pessoa se muda ou morre. Você não conseguirá livrar-se da amargura de modo algum a não ser que a reconheça como pecado contra o Deus que é Santo, confesse esse pecado e receba o perdão.
A dificuldade está em desviarmos a nossa atenção do pecado do outro. Mas, o próprio fato dc pensarmos que o problema é do outro já prova que não é. Se fosse, e você estivesse radiante de luz e doçura, não sentindo-se amargurado, você estaria preocupado em ajudar a outra pessoa. Você poderia dizer: “Coitado! Olhe o que ele fez! Se eu fizesse o que ele fez, iria sentir-me um farrapo. Ele deve estar sentindo-se assim; vou ajudá-lo”. Se a sua atitude é outra, você está amargurado, e o pecado é seu, e não dele. Eu creio que este pecado seja um dos maiores impedimentos ao avivamento neste país. Quando os crentes começarem a confessar os seus pecados, estarão prontos para perdoar os pecados dos outros.
“Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mateus 18.35).
Quem disse isso foi o Senhor Jesus Cristo, ao trazer aos Seus seguidores o ensino a respeito do perdão.
Muitos de nós já tivemos a experiência de ver uma pessoa chegando até nós para pedir perdão. Também nós já fomos a outros a fim de pedir-lhes que nos perdoassem. Há vários tipos de respostas que se dá a esse pedido, mas a resposta mais comum é aquela em que a pessoa diz que “não há nada a ser perdoado”. Na aparência, essa resposta dá uma impressão de muita bondade, mas, na realidade, não é assim — é um meio de a pessoa recusar-se a perdoar.
A pessoa a quem você pede perdão sabe muito bem que você precisa ser perdoado. E se esquiva do seu pedido ao dizer: “Não há o que perdoar”. Poderá haver o caso de a pessoa estar sendo sincera, mas não é isso o que ocorre normalmente.
Às vezes, as pessoas dizem: “Tudo bem; está perdoado”. Dizem-no por uma questão “protocolar”, mas não é isso o que o seu coração está dizendo. O ensino de Jesus, porém, exige o perdão de coração. Deus sabe quem realmente perdoa. E aprendemos que o Senhor irá tratar-nos de um determinado modo a não ser que perdoemos de coração ao nosso irmão. Ele não exige de nós que digamos palavras bonitas. E mesmo que você convença a pessoa que veio até você pedindo perdão de que a perdoou, não poderá convencer Aquele que sonda o coração. E Ele sabe quando você realmente perdoa de coração.
Não podemos esconder do Senhor esse nosso pecado. Os nossos corações estão abertos e manifestos diante d’Ele. Se nos recusamos a perdoar, Ele o sabe. Ele conhece o nosso pecado e, sem dúvida alguma, lembra-Se muito bem do que a Sua Palavra exige em termos de perdão.
O que diz a Bíblia sobre como o nosso Pai Celeste irá tratar-nos?
“Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoa? Até sete vezes?” (Mateus 18.20).
Pedro pensava estar fazendo uma pergunta “virtuosa”. Pensava: se uma pessoa pecar contra mim sete vezes deverei perdoá-la’? Não é uma atitude santa, a de perdoar sete vezes?
“Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.22).
Quando Jesus deu essa resposta, será que Ele queria dizer que devemos estabelecer um limite? Devemos estabelecer uma contabilidade do perdão? Fazer um arquivo?
Se uma pessoa conta o número de vezes que perdoou, isso significa que ela nunca perdoou realmente. Se você perdoasse ao seu irmão do íntimo do seu coração cada vez que ele pecasse contra você, cada nova ofensa que ele cometesse ,iria parecer-lhe a primeira.
Quando Jesus ensina a respeito de, por exemplo, oferecer a outra face, as pessoas não fazem a aplicação correta desse ensino, pois dizem: “Tudo bem: vou deixar que ele me bata na outra face. Mas, se ele me bater na terceira vez, vou lhe dar uma surra que o deixará no chão!”.
Ao nos ensinar sobre oferecer a outra face, Jesus estava dizendo que devemos fazê-lo de coração. Ele compreende que a outra pessoa está pecando contra você, Compreende que a outra pessoa está errada sete vezes, setenta e sete vezes, ou quatrocentas e noventa vezes. Porém, se você está contando quantas vezes, não está perdoando.
“Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos’. E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos, e tudo quanto possuía, e que a dívida fosse paga. Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: sê paciente comigo e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: paga-me o que me deves. Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: sê paciente comigo e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera. Então o seu senhor, chamando-o, lhe disse: servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mateus 18.23-35).
Quando passamos da morte para a vida, fomos perdoados. E o escrito de dívida que foi cancelado era imenso! O perdão é um presente que nos foi dado incondicionalmente. Mas há uma diferença entre perdão incondicional e perdão condicional.
Ao nascermos de novo, recebemos o perdão incondicional. Trata-se de um perdão imenso, como o que foi oferecido ao grande devedor da parábola. Lemos em Colossenses 3.13:
“Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
Como foi que o Senhor nos perdoou? Incondicionalmente. E a ordem é que perdoemos como o Senhor nos perdoou. Incondicionalmente. Todavia, quando se trata dos que nos ofendem, estabelecemos um perdão condicional. É bom lembrarmos como o Pai Celeste trata aqueles que comportam-se como o servo incompassivo da parábola.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12).
O Senhor nos orientou a orarmos assim. Mas nós nos opomos dizendo: “Senhor, eu não quero ser perdoado desse jeito. Se eu for ser perdoado da forma pela qual eu perdôo, estou perdido!”.
O crente que ora conforme essa instrução está orando por um perdão condicional. Nos versículos 14 e 15, logo após a oração do Senhor, Jesus diz:
“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. Isso é verdade? Foi Jesus quem o disse!
Alguém poderá objetar: “Como pode ser? Recebemos perdão incondicional. Depois, Jesus diz que se eu perdoar as pessoas que pecarem contra mim, serei também perdoado pelo Pai Celeste. Mas, se eu não perdoar as pessoas que pecarem contra mim, o Pai não vai perdoar os meus pecados. Isso me parece perdão condicional”. Eis porque é condicional: Ele ensinou que, quando passamos da morte para a vida, a nossa dívida, que era enorme, foi perdoada. Nessa ocasião, recebemos instrução clara de que deveríamos perdoar assim como fomos perdoados. Recebemos perdão incondicional; temos que perdoar incondicionalmente.
A pessoa que perdoa incondicionalmente não tem qualquer problema em orar: “Senhor, perdoa-me assim como eu perdôo”. Seu perdão é incondicional. O crente que faz o que lhe manda o Senhor não encontra contradições. Só haverá contradições quando o perdão oferecido não for o mesmo perdão recebido. Este foi o problema do servo incompassivo. Ele recebeu o perdão. Mas, logo em seguida, não quis perdoar como foi perdoado.
Eis uma frase poderosa: “Eis como o meu pai Celeste irá tratá-los, a menos que vocês perdoem do íntimo o seu irmão, assim como do meu íntimo eu os perdoei”. A certeza da salvação não pode existir onde há falta de perdão.
“Se teu irmão pecar contra ti, vai arguí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, n%o te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.”
Esta passagem, que precede a parábola que examinamos, também se refere a essa questão de perdão de coração. Se o seu irmão pecar contra você, vá até ele e mostre a ele o pecado que cometeu. Só entre vocês dois. Se ele ouvir, você terá ganho o seu irmão.
Você dirá: “E impossível que o resultado seja esse. Já tentei agir assim — a pessoa pecou contra mim e fiquei tão irado que fui a ele e mostrei-lhe o seu erro, mas ele não se dobrou”. Isso aconteceu porque você não foi a ele com o coração cheio de perdão. Esta passagem não faz sentido para várias pessoas porque elas não podem aceitar o fato de que têm que ir ao ofensor nesses termos. “Como poderei falar com alguém sobre o pecado que cometeu contra mim, esperando ganhá-lo? Ele irá assumir uma postura defensiva”. Por quê? Porque alguém está acusando-o. Mas, se você for a ele com perdão no seu coração - a conclusão final de todo este ensino — o resultado não será acusativo.
Posso garantir que a pessoa jamais será ganha se o que deseja corrigi-la for a ela com qualquer tipo de amargura, ressentimento ou espírito de acusação. Não se pode ir ao seu encontro com esse tipo de atitude. Só podemos ir se anteriormente já houver em nosso coração o perdão. Um perdão que não dependerá do arrependimento do outro. Tenho certeza de que ele não se arrependerá se não for procurado por um coração perdoador. Temos que procurá-lo em amor e perdão. Se nos der ouvidos, teremos ganho o nosso irmão.
Se ele não nos der ouvidos, apesar de o termos procurado da maneira certa, devemos chamar um ou dois irmãos para irem conosco a ele — irmãos com perdão nos seus corações também.
Não é assim que, em geral, acontecem as coisas. O que geralmente ocorre é que a pessoa vai falar com a outra num espírito de acusação. A outra passa a defender-se. E assim, duas outras pessoas, que conhecem só um dos lados da história, são chamadas para fortalecer a posição de que está “corrigindo”. O resultado é: fracasso.
É preciso que todos tenham o coração cheio de perdão de modo que, se o ofensor recusar-se se arrepender, ficará evidente a falha dele.
Se ele recusar-se a ouvir, deve-se comunicá-lo à igreja. E claro que é preciso que a igreja também esteja transbordante de perdão. Há igrejas que pensam que exercem uma disciplina santa. Mas isso não é verdade, pois lhes falta essa atitude. Procuram o ofensor, despejam “tudo” sobre ele, e ele assume uma postura embrutecida. Chamam uns dois ou três outros, que agem da mesma forma, e o resultado é o mesmo. A igreja chuta o indivíduo sem qualquer postura íntima de perdão. Todavia, um dos objetivos da disciplina é restaurar o ofensor!
Se recusar-se a dar ouvidos à igreja, deverá ser tratado como um gentio ou cobrador de impostos. Não creio que o Senhor Jesus quis dizer que deverá ser tratado como eram tratados, então, os gentios e os cobradores de impostos. Creio que Ele tivesse em mente o tratamento que essas pessoas devem receber. Em Mateus 5, Jesus nos diz para tratarmos os justos e os injustos da mesma forma. Ele nos manda amar os nossos inimigos. Assim, ainda quando os tratamos como gentios e cobradores de impostos, isso deve ser em amor. O sentido aqui é que eles devem ser considerados pessoas estranhas à comunhão, mas que devem receber amor e perdão desde o nosso íntimo. Eles é que se recusam receber o perdão que o povo de Deus lhes estendeu desde o seu íntimo. É por causa deste ensino que Pedro fez a pergunta que originou a parábola — “Quantas vezes perdoar o meu irmão?”.
“O amor... não se ressente do mal” (I Coríntios 13.4,5).
O amor não faz uma listinha de erros dos outros. Talvez alguns de vocês já ouviram o seguinte, no contexto do casamento — o marido, ou a esposa, diz: “Você sempre fez isso; e você nunca fez aquilo”, O que está implícito nesse comentário? Que alguém está contabilizando. A Bíblia manda que jamais façamos isso. Fazemos listas de erros quando ficamos armazenando ofensas. O perdão não age assim.
O que Jesus quis dizer ao afirmar que “o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus”? Ele Se referiu à igreja cheia de perdão, agindo em Seu nome — agindo como Ele ordenou que agisse. Dessa forma, ao tomar uma decisão baseada na Sua Palavra, Ele honrará essa decisão.
Ele não honra a aplicação mecânica de alguma fórmula. Mas, se a igreja agir no caráter e amor do Senhor Jesus Cristo e o Corpo de crentes tomar uma decisão, no espírito de perdão, de disciplinar uma pessoa que não quer arrepender-se, Deus honrará essa decisão nos céus.
Muitos crentes usam aquele versículo sobre dois ou três concordarem a respeito de alguma coisa fora do seu contexto. Esse texto refere-se à disciplina na igreja e à questão do perdão para com um irmão. Aparece exatamente entre o ensino a respeito de como tratar o irmão culpado e a pergunta de Pedro sobre quantas vezes se deve perdoar um irmão. Assim, quando dois ou três se reúnem em Seu nome, o Senhor Jesus Cristo está com eles. Isto tem a ver com decisões de perdoar pessoas que tenham pecado contra nós.
E fácil perceber a relação entre isto e a amargura. A amargura é, na verdade, falta de perdão. É assumir a postura de que alguém fez algo contra mim, e eu não irei perdoá-lo. Mas é claro que a amargura não se vê a si mesma como pecado — ela só quer ver o pecado do ofensor.
Portanto, num sentido, o perdão é unilateral. Num’ certo sentido, o Senhor Jesus nos perdoou a nós todos antes que nos arrependêssemos. Esse perdão só tornou-se ativo a partir do momento em que o recebemos. Deus não estava nos céus guardando rancor até que nos arrependêssemos. Ele não fica lá amargurado até o dia de nosso arrependimento. Ele tem o coração cheio de perdão antes que nos apropriemos desse perdão. Há perdão unilateral da parte de Deus, e Ele exige perdão unilateral da nossa parte para com quem quer que seja que peque contra nós. Ficamos pensando no que a pessoa fez contra nós, ou falou de nós, mas o problema nada tem a ver como que ela fez ou falou.
Quando um crente tem o coração cheio de perdão, ele se preocupa com a pessoa que pecou contra ele. Ele não se preocupa consigo mesmo. Mas nós somos como Pedro: “Claro, Senhor, eu vou perdoá-lo sete vezes! Mas, se ele pecar pela oitava vez, em ‘viro a mesa”!
O verdadeiro perdão não faz listas. Se você tem uma tendência para agir assim dentro ou fora da sua família, é bem provável que você não esteja perdoando. E Jesus ensinou que o Seu Pai Celestial irá tratar-nos com falta de perdão, a não ser que perdoemos de coração. Perdoe de coração.
“Mas eu não consigo perdoar de coração”. Então, quem é que precisa, de perdão? Você.
A pessoa que precisa de perdão é a mesma que sente essa falta de amor esse ódio, essa atitude má, esse rancor, ou seja, lá o que for. Não é possível uma atitude duplica: não se pode guardar mágoa e regozijar-se no Senhor ao mesmo tempo.
É possível, sim, guardar mágoa no coração e freqüentar a igreja e cantar. Mas isso tudo é uma farsa! O louvor é falso. Você pode forçar as pessoas a cantarem, mas, quando os seus corações estão limpos, não é preciso forçá-las — elas irão cantar de coração, espontaneamente. Por quê? Porque os seus corações estão limpos!
Há uma grande diferença entre cantar porque a pessoa está regozijando-se no Senhor, e cantar para ficar alegre. Alguns crentes vão à igreja todos os domingos e cantam para ficarem alegres. Mas a alegria acaba quando eles param de cantar porque há sujeira em seus corações.
Seria bom se todos nós fôssemos infalíveis e só os outros fossem os pecadores. Mas não é assim. É melhor assumir o fato de que sou eu quem tem o problema: falta-me perdoar.
Se um crente tem o coração cheio de perdão, terá alegria. Não importa o tamanho do erro do outro, ou o quanto a outra pessoa o ofendeu.
 
Texto de: Pr. Marcos Machado - Igreja Batista Jardim Novo Mundo – Goiânia (GO)